terça-feira, setembro 15, 2009

TóZé do Mal - férias parte II



Da piscina de Riglos fomos jantar ao refúgio, apesar de eu estar com muita vontade de passar em Jaca (que fica a caminho de Ordesa), dormimos mais uma noite em Riglos.

De manhã cedo saímos então para (ca)Jaca e desta para Ordesa.
Já em ordesa, a primeira vez para nós, demos umas voltas turísticas.





Tentamos arranjar croquis, porque eu fiz o "favor" de me esquecer de alternativas. Apesar de ter recolhido informação exaustiva sobre muitas das vias do Tozal, na última hora imprimi apenas o croqui da via: "Brujas Franco-española - 435m 6b+", que é como o nome indica metade pela via "Brujas" até à "Plaza Cataluña" e depois pela "Franco-española". O largo de 6b+ estava para a cabeça da Natália como o marroquino com a folha de serra para a cabeça do João.

O João esse estava mais interessado nas caminhadas.
- E se fossemos fazer uma caminhada grande? - dizia ele.







- Deverias ter trazido croquis de vias mais fáceis, para nos ambientar-nos, não! foste logo trazer daquela que querias fazer... fizes-te de propósito!
- Num fiz nada, pensei que todos queriam fazer... Olha que é 1 das 5 míticas da dupla Rabáda / Navarro , só nos ficam a faltar 4... Blá Blá. Qualquer escalador digno tem que fazer essas vias... - e comecei a falar-lhes do Rábada e do Navarro, das suas vias e... da trágica morte na face norte do Eiger (acho que fiz mal em falar tanto).

É proibido aceder de carro ao interior do parque, para o efeito existe autocarros a levar e trazer malta. O Primeiro às 6h da manhã, o 2º às 7h e o 3º às 8h e depois todos os quartos de hora, até salvo erro às 22h. Compramos os bilhetes cerca de 4€ ida e volta. E fomos fazer "Barraquisme" para o parque de campismo Ordesa. Que tem uma piscina com umas vistas espectaculares, uma banhoca na piscina, e uma sopa de tomate potente.



Saímos no primeiro autocarro, que (se não vier cheio) pára à frente do parque de campismo. Os primeiros autocarros vêm quase sempre com lugares vagos. A viagem completamente às escuras e com um motorista que mais parecia um ex-piloto de fórmula 1 viciado em montanhas russas demorou praí uns 15 minutos.

A saída encontramos o material de escalada de várias cordadas todo a molho na mala, que com o chocalhar da viagem fez que improvisássemos uma espécie de feira da ladra: às escuras a apalpar camalotes, a tentar adivinhar-lhes não só o número mas também as cicatrizes, para apartar o nosso do alheio.
Sem mais contratempos iniciamos com garra a aproximação, tínhamos já uma cordada à nossa frente. Desde o parque onde param os autocarros, é necessário voltar a traz pela estrada cerca de 1Km e logo cortar à direita por um trilho evidente e identificado. A garra inicial foi-se acalmando com o peso das mochilas, e cerca de 1h30 depois estávamos no sopé do TóZé.


cabana de madeira a meio do caminho de acesso ao tozal del mallo.


o tózé à primeira luz da manhã








Depois das observações devidas, algumas escorregadelas no entulho e muitas indecisões, a olhar para o croqui e para a parede, decidimos que o inicio da via deveria ser ali...


A ver onde seria o inicio da via

Da outra cordada nem cheiro.

Começo a subir uns patamares, novamente cheio de garra, até que a Natália me diz.
- oh Sérgio e se te encordasses?! não seria boa ideia? - eu respondi: - É pá aqui neste patamar!!? é bué de perigoso, num vês que num tenho espaço para colocar o arnês...!
- Se num te encordas num vou.
- És mesmo chata! - saco da corda e amarro à cintura, estilo moda antiga.
- Estás a brincar? encorda-te lá direito se faz favor. - o João que assistia a isto tudo impávido e sereno, fumava um cigarrito. Coloco o arnês em equilibrio precário, conforme o exigido, com a corda que tinha comigo pesco a outra, e passados uns minutos lá retomo a escalada depois destas interrupções.

Atiro-me a uma fissura vertical e começo apertar um bocadinho, vejo um friend abandonado e comento:
- É mesmo por aqui... tá aqui um friend a indicar o caminho da via.- continuo a escalar, cada vez mais vertical, e já a agradecer interiormente o bom senso da Natália. Ao fim de cerca de 20 metros, de repente faz-se luz. Se o Tozal del Mallo (TóZé o Mau, em Português) fosse um gigante, eu tinha acabado de escalar o dedo do pé. De cima da unha consegui ver o tamanho do hipermercado. Sim, o maior hipermercado de electrodomésticos da europa, são frigoríficos, televisores, microondas, torradeiras e algumas câmaras frigorificas XXL. Para a minha esquerda é que estava a verdade, nós tinhamos escolhido o entulho, acho que a via Ravier, mas não tenho a certeza.
Confirmei as minhas suspeitas com duas criaturas minúsculas que via lá longe, no que seria a primeira reunião da verdadeira Brujas.
- Oi, ó espanhóis, aí é que são as bruxas?!
- SI, Tenedes que bajar, é ir à la vuelta...- ou cena parecida.
- Estamos mal, isto é apenas um ombrozito, ainda não viram o verdadeiro TóZé, que é grande pa caraças, e pa ir as brujas temos que ir à volta. - digo eu para os meus companheiros de cordada.
- Num Dá pa rapelar daí? e nós faziamos isto de segundo. - pergunta o Janeca.
- Estás maluco?!, são praí 4 rapeis, o lado de lá é muito fundo, tenho que destrepar, e vamos à volta.- se a escalada foi complicada o destrepe...
Descido novamente ao solo, não muito seguro porque aquilo é rampeado praí a 69%, lá iniciamos a caminhada de aproximação. Durante a caminhada, falou-se novamente que deveria ter trazido mais croquis, ao menos o croqui completo das "Brujas" e não das Bruxas francesas e espanholas.

Chegamos ao pé de via, desta vez o verdadeiro, já a cordada que estava a nossa frente ia no largo de 6b+, coisa boa ter uma pela frente que dá para nos guiar-nos, coisa má é ser cordada espanhola, que têm a fama de atirar "piedras".

Encordei-me rápidamente e comecei a subir aquele caos de blocos, que pareciam cubos gigantes de chocolate em equilibrio precário. Sentia-me bastante feliz e satisfeito com o ambiente. Cheguei à reunião e comecei a recolher corda. Tive que montar a reunião 10 metros mais abaixo da verdadeira reunião porque, não sei se de entrar um pouco ao lado, as cordas de 50 não chegaram...

A Natália tinha desaparecido... O João fumava mais um cigarro... Olhei para cima e comecei a fazer contas à vida... O 2º largo parecia fantástico, ali é que começa a verdadeira escalada, mais aérea, com bastantes pitões a "ensinar" o caminho, a rocha parecia também melhorar muito. Às tantas chega a Natália encorda-se e começa a subir com o João, a meio do largo diz:
- Vou-me desencordar e descer...
- Estás tola?! Não dá. Agora anda até aqui e depois desces...
- Mas olha que é a sério, desço mesmo, não me estou a sentir lá muito bem, vão vocês, eu fico.
- Oh Natália faz lá isto até à reunião e depois decidimos. - diz o João.
- Mas eu posso descer já aqui, eu consigo destrepar, estou a ver caminho, desencordo-me e destrepo e vocês seguem...
- Não sejas maluca, anda até aqui e já decidimos.



Subimos mais um bocadinho até 2 pitões da verdadeira reunião e começamos a conferenciar:
- Se desce 1 descem todos, somos uma cordada de 3.
- Não, não, vocês podem ir na boa, eu é que desço.
- Se desce 1 descem todos, é essa a regra.
- Aqui num há regras, parece-me é que vocês estão é com medinho... Eu desço na boa, vou até à piscina com o bonitão do parque e vocês escalam.
- Bonitão o caraças, não tem jeito nenhum desceres sozinha por aí abaixo, desce 1 descem todos.
... E assim durante largos minutos continuamos nestas interessantes reflexões, com pequenas pausas para espreitar o 2º largo que parecia mesmo mesmo espectacular.








O abismo e apenas no 1º largo


Montamos as cordas para o rapel e descemos.




Digo eu:
- É pá, deixem lá, ao menos já ficamos a conhecer onde é a entrada da via, para o ano vimos cá e é muito mais rápido.
- Vez o que ganhas-te? ditador! - diz a Natália - parece-me é que vocês estão é cheios de medinho, cobardes.
- O Natália estás a passar-te, é na boa, para o ano vimos cá, foi como no puro... ficou para o ano e agora já está feito.
- Vê o que ganhas-te, agora leva a taça, ANDARINI.

E este foi o pior insulto das férias. Ditador, cobarde, ainda vá lá.. agora "andarini"?!





Para fazer jus ao nome fizemos uma caminhada pela faja Racón, carregados de material.

















Esta caminhada circular, permite uma visão espectacular do vale de Ordesa. Eu a cada catedral de rocha que via dizia:
- É pá! Brutal! isto deve ser o Galinero, é lá uma outra das 5 míticas da Rabáda / Navarro...

Ali deve ser o Galinero

















Chegados à Pradera de Ordesa, hidratamos com umas cervejas e descemos no autocarro completamente estoirados, a dormitar e a dar cabeçadas no vidro nas curvas.



Mas chegados ao parque espevitamos e fomos recuperar para a piscina. Cozinhamos como sempre e fomos dormir a ver as estrelas.

quarta-feira, setembro 02, 2009

Férias 2009 - Parte I

As férias é algo ansiado por todos, queremos fugir à rotina e passar uns momentos divertidos e sossegados. Os três amiguinhos ansiavam também as suas mini férias, mesmo sabendo que sossegadas seriam pouco. Como disse o jovem zeza “fomos em trabalho cozer o miolo”, pois foi mesmo assim, cozemos e descozemos o miolo.
Saímos rumo ao Alentejo buscar o parceiro de cordada, bota gassssssssssssss por lá fora e ainda chegamos a Portalegre antes do Joni que vinha de Lisboa.
De manhã saímos rumo a Riglos, resolver uma ensarilhada que deixamos pendente no ano passado, O PURO.


Os três "meninos ".

Este ponto merece um pouco mais de atenção, pois devo explicar que a adaptação a esta escola não é fácil, é preciso amadurecer a tola, no ano passado vagueamos algum tempo debaixo dessa via, mas a coragem nunca nos abordou e acabamos no esporão Adamelo a escalar bolos com gelatina.Este ano íamos decididos a não falhar, a não encontrar desculpas baratas, ai que temos gente por cima, ai que está calor, ai que o puro é babado…,blalalalaaaaaaaaaaaa

O PURO 21-08-2009


Puro - forma bicudinha à direita...



Chegamos bem tarde ao famoso e secreto parquinho onde dormimos no ano passado, mesmo antes de chegar ao povo há uma cortada à esquerda que vai dar a um local de merendas com árvores, mesas, esquilos, fonte… no ano passado ainda nos falaram em guarda civil e proibições, este ano foi bira para baixo que é mesmo lá que vamos dormir.

Já havíamos jantado, infelizmente em Serágrossa comida embalada em caixinhas, para não se ver o seu mau aspecto, massa com frango ou massa consistente. Não montamos barraca - tripartidos no chão e toca a dormir, é de salientar que estava bastante vento e que de meia em meia hora acordávamos com o alarme do carro, pépépé… como se não chegasse isso, o Joni tinha um Marroquino a bater-lhe com uma serra na cabeça.
Inacreditavelmente no dia seguinte estamos frescos que nem uma alface, e lá seguimos rumo ao nosso objectivo.

Chegados ao sopé da via já tínhamos uma cordada por cima, mas ainda no primeiro largo, nada de grave. O Master ZEZA estava ceguinho e lá segiu quase sem falar, é mesmo aqui. - Mas oh Sérgio se fizermos por aquele lado anulamos esta chaminé fo****…..- é nada.

E num piscar de olhos já está o homem na primeira reunião. Bem os dois primeiros largos são tombadinhos para o lado errado, fazem gemer, bufar, sem dificuldade mas com continuidade. Devido a uns acidentes de percurso nessa semana encontrava-me um pouco fraca, mas para não dar parte fraca mentalizei-me que aquilo havia de melhorar, e assim foi, melhorou, piorou, melhorou…No 4º largo o croqui mencionava um 6a qualquer coisa, mas este tipo de cotações é muito ao gosto do freguês, se o gajo era pequeno era um 6b se o gajo era grande era um V, são imprevisíveis. Bem o dito 6a deu mais trabalho que o que imaginava, mas sem preconceito, e com umas cintas larguinhas, lá se passou a barriguinha de bolos. Os 2 largos seguintes são em chaminé, coisa fácil e de grande desfrute.

Chegados à base daquela coisa afiada e pronunciada, aí sim a coisa muda de figura, o miolo começa a trabalhar e o medinho aparece, sol na tromba, vento e um abismo descomunal debaixo dos pés.
Na famosa forma fálica ainda nos restavam 3 largos, de 5b, 5c e 6b, é de salientar que o ser humano gosta de sofrer por antecipação e o largo de 6b martelava-me na cabeça, e ai voltava o marroquino com a serra a dar pancadinhas leves no crânio.

O primeiro largo dessa recta final era o mais fácil e até bem bonito, mas variava entre abismo e entulho, umas bolas de Berlim soltas e aí meus deus o que é que eu faço aqui, cu para o abismo e não penses mais. Chegados à reunião o Joni segiu para o V+, que se tornou para mim e para parte da cordada o largo mais difícil da via. O miolo já não somava 2+2, cegos com o 6b e a pensar fo***** se isto é V+ o que será 6b. No croqui salientava que as presas estavam escondidas, mas estavam lá, eu não as vi e só vi uma expresse com uns dizeres “Agarra-te aqui”, e lá fui parede acima até a última reunião, onde fiquei eu e o Joni de boca a aberta a ver o Zeza fazer o 6b como se de um III grau se tratasse, lançamento para o puxador e siga para cima, na verdade o passito era duro mas nada que não se fizesse. O animal da cordada chegou ao cume e Reunionnnnnnnnnnnnn, ainda falou com a cordada que seguíamos.

Encontramo-nos no cume os três, foto da praxe posemo-nos de pé e vamos lá a parte do rapel, ainda era necessário penar bastante, dar uma voltinha ao cocuruto presos a um cabo de aço que por ventura tinha um piton que abanava mais que os dentes de leite de um miúdo de 6 anos.
Os rapeis são característicos dos Mallos de Riglos, quase todos com “ar debaixo da peida”, tectos, e uma dor abdominal no final dos 4 rapeis.

Tínhamos fome, cede e muita vontade de sair dali para fora, não fosse a "pilita" cair depois de tal cordada a ter pisado. Acabamos de barriguinha cheia na piscina municipal a tomar banhinho com uma vista inesquecível dos Mallos de Riglos num tom avermelhado.

O nosso sorriso dizia tudo:


O Abismo no El PURO

Algumas fotos da aventura vertical:


Riglos


1º largo, Sérgio obstinado


Zeza a fugir de nós no 1º largo


Eu no primeiro lance...dureza sem aquecimento asssusta


Joni à frente no 2º largo


Sérgio no largo de travessia - 3º largo




Teixa 4º largo - 6a




Taia no 4º largo




Zeza a correr na chaminé do 5º largo. - Temos de ser mais rápidos...blalalallaaaa




Joni na chaminé desfrutona


Taia na chaminé desfrutona


Master na saida para a "pilinha", que cara de abismo...lol


Master na saída para a "pilinha", tá na meditação


Eu mesmo antes de chegar ao abismo


Eu e o Joni na passagem abismica, sol, vento, e uma coisa grande ainda para escalar


Hummmm 2+2..... ai o 6b............................ com a tola toda cozida


Sérgio no primeiro lance da recta final


Joni no cocuruto


O tal animal da cordada no cume


O ABISMO no abismo


Du rapel