Começo a pensar que os Irmãos Sio, são na meadinha, uma espécie de Rabada Navarro, no que toca à qualidade das suas vias.
O esporão destacado e evidente que rasga a parede à direita da KK, prende o olhar.
Aéreo e recto este traçado possuí uma escalada técnica e exigente quer ao nível físico quer a nível psicológico.
Depois do habitual pequeno almoço "continental reforçado", e do aquecimento forçado da aproximação, abrigámo-nos dos 27º, à sombra generosa do sopé da via.
"Esta não é uma boa via para hoje", assolou-me o pensamento, mas o vício era grande e atirei-me ao 1º largo cheio de coragem. Coragem que se foi desvanecendo, quando passei a fronteira do bafo da sombra para a chapa em brasa. Estamos em Outubro? A escalada é um misto de entalamentos e apláts, mantida até ao final.
Eu no primeiro largo
O Mc, de várias vezes tinha confessado o seu desejo íntimo de fazer em livre uma via no reino do coelhinho. Mas sempre por sua culpa, esse desejo não se concretizava (talvez por malvadez do destino os largos duros calhem sempre a ele, ih ih). O 1º largo estava sacado.
De segundo vieram a Taia e o Mc, com grandes ganas. A Natália chegando à reunião informou que ia apanhar flores.
Taia
MC
Com medo de ser-nos chamados de "andarinis e cobardes" lá continuamos receosos com a vista do 2º Largo. A entrada para o 2º largo coze logo o miolo todo. Saiu o Mc à frente e com grande cabeza, foi cosendo a aliens a microfissura vertical.
O pânico acompanha a escalada e o esfíncter contrai sempre que se olha para cima, chapas nem velas, e a fissura cega até ficar em placa super vertical. Passando esta secção aparece uma chapinha solitária e já em terreno mais tombado um reinaldinho até à reunião. 2º largo limpo.
O 3º Largo era na verdade, o que me tinha feito sonhar com esta via. E era para me calhar este que me fiz voluntário para abrir o 1º. Mas o Sol ia alto e quente. Ali com o largo à frente a toldar-me o olhar, pensei seriamente em deixar cair um pé de gato ao chão.
O ambiente era animado e havia sempre a hipótese de desistir e desculpar-me pelo calor, ia ao menos tentar a parte da placa, que a chaminé/fissura quase extra-prumada era um problema futuro e no momento preferi adiar. Iniciei a placa logo a chiar. As mãos gordurosas e os pés a rodarem dentro do pé de gato lá fui puxando as orelhas aos pequenos gratons.
3º largo
MC no quarto largo
Depois de recuperar um pouco as forças, lá saiu o Mc, vencendo um primeiro ressalto. Primeiro em fissura e depois em placa. Aqui sobe-se tremendo em nanominimicrons por placa vertical vê-se uma chapita ao longe e vem à memória o último alien precariamente colocado. Eu cá em baixo tentava desviar-me o mais possível da linha de queda. E revia mentalmente os vários procedimentos de resgate, conforme o caso. Ao menos distraía-me do medo que tinha de levar com o número 4, com o resto dos números, material, arnês e homem apegado em cima... Olhava para o patamar da queda, para a ridícula ultima protecção, e para o pontinho tremelicante lá em cima.
Uma eternidade depois o conforto de uma chapa. Para de seguida tudo piorar de forma enganadora, sobe-se na esperança que vai dar para proteger numa fendinha, para depois descobrir sem possibilidade de recuar, que não há fenda nenhuma. Metros de gratonzinhos crocantes e estaladiços, numa placa onde "virar os olhos desiquilibra". E o patamar lá em baixo, bem longe, de braços abertos pronto a receber-te.
Sabendo que o "passo duro" ainda está para vir, imagino que de primeiro muita coisa ocorra.
Tudo isto não sendo dito foi percebido pelos gemidos, palavrões e longos silêncios que me chegavam do primeiro de cordada.
A Natália na esplanada lá em baixo, de frente para uma mini gelada, tinha a oportunidade de assistir a conversas que geralmente na parede não se ouve:
"- Que aventura estúpida!"
"- Se fosse meu filho eu tinha muito desgosto."
"- Andam ali. E se se magoam ainda pedem uma reforma mais alta."
Finalmente o Mc informa que tinha chegado a um patamar confortável e que iria tirar os pés de gato, repensar a vi(d)a. E que depois ia ver o tal passo duro. Agora precisava de recuperar.
Lá esperei, um bocado desconfortável talvez pelo arnês cravado nos rins, ou talvez por saber que se aproximava a minha vez. As cordas faziam uma grande diagonal, sem nenhum protecção intermédia, e eu imaginava pêndulos gigantescos como nos filmes de yosemitra, e choques contra blocos bicudos como nos filmes de terror. Foi o Mc que me retirou do mundo cinematográfico, informando que ia ver o tal passo.
De onde estava não o podia ver. Tinha grande curiosidade por o tal passo e comecei a colocar alguma pressão para o incentivar (pela via da raiva). Dizia-lhe que era um passito de bloco, que ele era o rei mitra e homem bloquero. Que estava tudo nas mãos dele e se queria fazer a via em livre era aquela a hora e o momento. Para se deixar de merdinhas e puxar dos super poderes, que o contacto prolongado com o coelhinho vai dando (ou tirando).
Aéreo e recto este traçado possuí uma escalada técnica e exigente quer ao nível físico quer a nível psicológico.
Depois do habitual pequeno almoço "continental reforçado", e do aquecimento forçado da aproximação, abrigámo-nos dos 27º, à sombra generosa do sopé da via.
"Esta não é uma boa via para hoje", assolou-me o pensamento, mas o vício era grande e atirei-me ao 1º largo cheio de coragem. Coragem que se foi desvanecendo, quando passei a fronteira do bafo da sombra para a chapa em brasa. Estamos em Outubro? A escalada é um misto de entalamentos e apláts, mantida até ao final.
Eu no primeiro largo
O Mc, de várias vezes tinha confessado o seu desejo íntimo de fazer em livre uma via no reino do coelhinho. Mas sempre por sua culpa, esse desejo não se concretizava (talvez por malvadez do destino os largos duros calhem sempre a ele, ih ih). O 1º largo estava sacado.
De segundo vieram a Taia e o Mc, com grandes ganas. A Natália chegando à reunião informou que ia apanhar flores.
Taia
MC
Com medo de ser-nos chamados de "andarinis e cobardes" lá continuamos receosos com a vista do 2º Largo. A entrada para o 2º largo coze logo o miolo todo. Saiu o Mc à frente e com grande cabeza, foi cosendo a aliens a microfissura vertical.
O pânico acompanha a escalada e o esfíncter contrai sempre que se olha para cima, chapas nem velas, e a fissura cega até ficar em placa super vertical. Passando esta secção aparece uma chapinha solitária e já em terreno mais tombado um reinaldinho até à reunião. 2º largo limpo.
O 3º Largo era na verdade, o que me tinha feito sonhar com esta via. E era para me calhar este que me fiz voluntário para abrir o 1º. Mas o Sol ia alto e quente. Ali com o largo à frente a toldar-me o olhar, pensei seriamente em deixar cair um pé de gato ao chão.
O ambiente era animado e havia sempre a hipótese de desistir e desculpar-me pelo calor, ia ao menos tentar a parte da placa, que a chaminé/fissura quase extra-prumada era um problema futuro e no momento preferi adiar. Iniciei a placa logo a chiar. As mãos gordurosas e os pés a rodarem dentro do pé de gato lá fui puxando as orelhas aos pequenos gratons.
3º largo
Lá me veio outra vez à ideia mandar o pé de gato para o abismo, mas para me descalçar dava um tralho do caraças, apertei até ranger os dentes e subi mais um bocado a ver se melhorava. E consegui um entalamento que me permitiu recuperar um bocadinho o folêgo.
A partir daqui, a escalada vai dando para mitrar à base de entalamentos. A um metro da reunião e já completamente arrebentado tive que descansar uns bons 5 minutos para subir mais um pouco e ver-me sem forças para festejar.
A minha parte estava feita. Variado e mantido, dos mais espectaculares que fiz na meadinha. Estava feliz e nem pensava no que iria tocar ao Mc. É bom quando chegamos à reunião de primeiro porque o próximo largo toca ao outro. E ali particularmente sabia mesmo bem pensar assim.
A partir daqui, a escalada vai dando para mitrar à base de entalamentos. A um metro da reunião e já completamente arrebentado tive que descansar uns bons 5 minutos para subir mais um pouco e ver-me sem forças para festejar.
A minha parte estava feita. Variado e mantido, dos mais espectaculares que fiz na meadinha. Estava feliz e nem pensava no que iria tocar ao Mc. É bom quando chegamos à reunião de primeiro porque o próximo largo toca ao outro. E ali particularmente sabia mesmo bem pensar assim.
O Topas com a Olga na Escaleras al Cielo
MC no quarto largo
Depois de recuperar um pouco as forças, lá saiu o Mc, vencendo um primeiro ressalto. Primeiro em fissura e depois em placa. Aqui sobe-se tremendo em nanominimicrons por placa vertical vê-se uma chapita ao longe e vem à memória o último alien precariamente colocado. Eu cá em baixo tentava desviar-me o mais possível da linha de queda. E revia mentalmente os vários procedimentos de resgate, conforme o caso. Ao menos distraía-me do medo que tinha de levar com o número 4, com o resto dos números, material, arnês e homem apegado em cima... Olhava para o patamar da queda, para a ridícula ultima protecção, e para o pontinho tremelicante lá em cima.
Uma eternidade depois o conforto de uma chapa. Para de seguida tudo piorar de forma enganadora, sobe-se na esperança que vai dar para proteger numa fendinha, para depois descobrir sem possibilidade de recuar, que não há fenda nenhuma. Metros de gratonzinhos crocantes e estaladiços, numa placa onde "virar os olhos desiquilibra". E o patamar lá em baixo, bem longe, de braços abertos pronto a receber-te.
Sabendo que o "passo duro" ainda está para vir, imagino que de primeiro muita coisa ocorra.
Tudo isto não sendo dito foi percebido pelos gemidos, palavrões e longos silêncios que me chegavam do primeiro de cordada.
A Natália na esplanada lá em baixo, de frente para uma mini gelada, tinha a oportunidade de assistir a conversas que geralmente na parede não se ouve:
"- Que aventura estúpida!"
"- Se fosse meu filho eu tinha muito desgosto."
"- Andam ali. E se se magoam ainda pedem uma reforma mais alta."
Finalmente o Mc informa que tinha chegado a um patamar confortável e que iria tirar os pés de gato, repensar a vi(d)a. E que depois ia ver o tal passo duro. Agora precisava de recuperar.
Lá esperei, um bocado desconfortável talvez pelo arnês cravado nos rins, ou talvez por saber que se aproximava a minha vez. As cordas faziam uma grande diagonal, sem nenhum protecção intermédia, e eu imaginava pêndulos gigantescos como nos filmes de yosemitra, e choques contra blocos bicudos como nos filmes de terror. Foi o Mc que me retirou do mundo cinematográfico, informando que ia ver o tal passo.
De onde estava não o podia ver. Tinha grande curiosidade por o tal passo e comecei a colocar alguma pressão para o incentivar (pela via da raiva). Dizia-lhe que era um passito de bloco, que ele era o rei mitra e homem bloquero. Que estava tudo nas mãos dele e se queria fazer a via em livre era aquela a hora e o momento. Para se deixar de merdinhas e puxar dos super poderes, que o contacto prolongado com o coelhinho vai dando (ou tirando).
- Vou tentar.
- Vais tentar o C#$%"#!, vais fazer essa merda. Não me F#$%&, fiz a minha parte e que bem que me costou. Agora chias tu, e sem merdinhas. (Não foi bem assim, mas fica bem na história.)
Não sei se foi este "amigável incentivo" ele lá informa que o primeiro passo já estava.
- Agora só me falta equilibrar.
Não sei se foi este "amigável incentivo" ele lá informa que o primeiro passo já estava.
- Agora só me falta equilibrar.
- ?!
- Mantém a corda justa. Vou tentar equilibrar-me.- !?#%&
Mas o gajo não está equilibrado? Pensava eu. E porquê a corda justa, acima do ponto como está, ele cai ao patamar e caí... Mas disse:
- Tá justinha, aperta contigo, deixa lá o equilibrio e vai mas é para cima.
- Já estou mais equilibrado, agora só vou reposicionar-me e tentar subir mais um pouco. Acho que mais em cima melhora um pouco.
Mas o gajo não está equilibrado? Pensava eu. E porquê a corda justa, acima do ponto como está, ele cai ao patamar e caí... Mas disse:
- Tá justinha, aperta contigo, deixa lá o equilibrio e vai mas é para cima.
- Já estou mais equilibrado, agora só vou reposicionar-me e tentar subir mais um pouco. Acho que mais em cima melhora um pouco.
- !?
Certo é que passado um bocadinho ele disse que já estava.
Fui dando corda com alegria até ouvir o característico grito da reunião. Que desta vez não foi característico.
Já se fazia tarde, e se na base lançamos a hipótese de uma saída pela aérea SALO. Agora saímos por terreno conhecido, para chegar ao topo já com pouca luz.
Certo é que passado um bocadinho ele disse que já estava.
Fui dando corda com alegria até ouvir o característico grito da reunião. Que desta vez não foi característico.
Já se fazia tarde, e se na base lançamos a hipótese de uma saída pela aérea SALO. Agora saímos por terreno conhecido, para chegar ao topo já com pouca luz.
No cume, esperavam-nos a Natália, a Olga e o Topas.
A treinar entalamentos para a próxima visita...
Até breve
AB
Até breve
AB
8 comentários:
Vocês estão umas verdadeiras máquinas!
O coelhinho já vos lançou convite para o 6º fim-de-semana:)?
Beijos e abraços
Daniela
A salo em livre???
Foinix! Que máquinas!!
Muito bem. Parabéns!
Paulo Roxo
Eu queria dizer "Hermanos Sio" em vez de "Salo".
Quanto ao resto mantenho... máquinas!
Paulo Roxo
Uff!! Até suei durante a leitura! Parabéns.
Nuno Teixeira
Livro dos Actos dos Apóstolos 9,1-20.
E, indo a caminho da Meadinha, aconteceu que, comendo um damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu. E, caindo em terra gritou: Salo, Salo, por que me persegues? E ouviu uma voz que dizia: Quem és, Senhor? E ele disse: Eu sou um pobre desgraçado, frouxo até às orelhas, a quem tu persegues...
Excelente reportagem de um dia bem passado e com boa companhia.
MC
Ps: também pensei nos largos que me calharam deitar os pés de gato ao chão. Mas depois de ter deixado cair o adesivo e um stopper, achei que seria demasiado suspeito!
Muito bom!!! :)
Excelente relato e aventura!
Que venha a próxima...
Muito bom!!!!!
Estão os verdadeiros locais da Meadinha!!!!!
Aquele abraço
João Animado
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