quarta-feira, dezembro 15, 2010

Nédia

Contêm "spoil"

PRÓLOGO
Há muito, muito tempo, todos éramos crianças irrequietas.
Ouvia-mos histórias sobre a maior parede de Portugal, das suas aproximações complicadas e retiradas épicas.
Há dois ou três anos tentamos lá ir, mas demoramos muitas horas a chegar à base da parede e tivemos que desistir.

Mais recentemente enquanto alguns ganhavam ritmo nos chalés dos Alpes, nós por cá treinavamos duro. Roçavamos mato às Segundas e Quartas. Rachavamos lenha às Terças e Quintas. Às Sextas sonhavamos, e sem muito fanatismo, se calhava, muito de vez em quando, escalavamos aos fins de semana. Em pouco tempo sentimo-nos preparados. Em alguns desses fins de semana calhou em ir-nos à vizinha Meadinha. Paravamos a olhar, da curva para a Nédia. Ficavamos simplesmente a olhar, em silêncio, com pensamentos vagos e dispersos que vagueavam entre o "dar para descer de bicicleta" até ao "é dificil lá chegar...".


PREFÁCIO
Cheios de concupiscência, e com tudo mais ou menos combinado, saímos de casa por volta das 8h da noite, combinados com o Marquinho em dormir no primeiro parque de terra.

Chegamos a Arcos de Valdevez e com uns cortes mal feitos (nunca tínhamos andado por ali de Noite) metemos por uns atalhos e 3 ou 4 horas depois estávamos em Melgaço. É tipo sair de Lisboa, ir tomar o pequeno almoço a Sintra para escalar na Fenda. Chegamos ao destino por volta da 1h da manhã. O Coelhitropo, fez uma visita ao Marquinho que o saudou ensonado, e com voz trémula de medo:
- ÉHH Coelhinhuuuu. - e adormeceu de novo.
Deitamo-nos e não eram mais do que 4:30 da manhã a Natália ouve metal a tilintar e diz:
- Sérgio acorda, o Cunha já está arrumar o material.
Saltamos de sobresalto para fora da tenda e era uma vaquinha com o seu chocalho.
- É uma Baca! Mas toca a por a pé que está na hora. Entretanto o Marco acorda também.



Taia a ouvir o Marco a organizar o material às 04.30 da manhã


Depois de vermos alguns guachinis.

CAPÍTULO 1
Deixa-mos um carro na Peneda e fomos noutro até Tibo.
Pegamos nas mochilas e com muita escuridão pusemo-nos a caminho por volta das 5:30h.


As radiações do coelhitropo a interferir com o equipamento fotográfico...


Já com menos radiações

Depois de atravessar o rio 3 ou 4 vezes decidimos abrir mato, afinal é o "caminho" certo.



Deveria ver-se alguém, mas a vegetação é bem agreste.


Chegamos à base da parede às 9 da manhã.



Sérgio a correr no primeiro largo

Fizemos os primeiros 2 largos em ensemble.




Taia no segundo largo


Marco no início do terceiro largo

O quarto largo é um problema de resistência.
Uma placa de 30 metros sem proteger que se fizer-nos embalados dá para correr em pé.
Tinha comido um chocolate e o Cunha tinha-me advertido que ia ter uma quebra, por causa do disparo da insulina.

Quando estava a meio deu-me a fraqueza, começaram-me a tremer as pernas, umas cãibras esquisitas e pensei, deve ser a quebra da insulina, estou tramado! ainda estamos no inicio e eu já arrebentei.



Taia no final do 4ºlargo, modalidade corrida na placa, é preciso ter fôlego.

Mas depois de ver os segundos a fraquejar igualmente, ganhei ânimo. Afinal aquilo era uma característica daquele largo.

Após isto, atravessamos o anel de mato, no qual vimos uns blocos bastante interessantes.


CAPÍTULO 2
O segundo anel visto da estrada aparenta ser mais a sério.



Sérgio e Marco no inicio do 5º largo (2ºanel)




Sérgio no quinto largo

Como as reuniões não são evidentes e à frente há sempre uma giesta mais grossa continuamos em ensemble até encontrar uma giesta jeitosa.


Marco a correr no sexto largo.

Neste largo saímos também em ensemble porque cordas de 60 metros numa parede com mais de 500 esgota-se a paciência para montar reuniões.



Cunha de croqui na boca, na reunião improvisada


Taia no sexto largo


As vistas


A reuniões na Nédia são de facto confortáveis.




Sérgio no largo das eras


Sérgio a espreitar se poderia entrar


O Sérgio no ânus do gigante, um largo que já dava que fazer


A reunião antes do off.dido


Marco no início do off with





Podería ter usado o número 6 se o tivesse-mos levado.



Depois do off with existe uma placa sem proteger de aí uns 20 metros.
O ideal é entalar uma mochila para as cordas dos 2ºs não caírem à fenda (ao chão).



Taia na placa depois do off.dido
(Nesta foto dá para ver o caminho que deverimoas ter tomado para chegar ao rio)



Cunha na reunião do off.dido


Cunha ao fundo, na recta final da corrida


Na última placa antes do cume




No cume


Já com a barraca montada no cume


A receber as boas vindas e a energia enviada pelo Coelhitropo

EPÍLOGO
Escalada, escalada, daquela com movimentos esquisitos, que se faz força e tudo! Tinha-mos feito muito pouca (cerca de 15 metros ao todo), mas eram quase 3h da tarde, tinha-mos entrado na parede à 6 horas e ainda nos faltava descer.



O regresso, a caminhada interminável






O vício

No final existe sempre a possibilidade de ensarilhar e é muito fácil perdermo-nos. Mas tivemos sorte, e do meio do mato vimos aparecer o caminho. Chegamos à Peneda por volta das 6h da tarde.


Acabadinhos de chegar à Peneda, onde encontramos o Cardi e a Cláudia.


POSFÁCIO:
Um prato onde a aproximação, a possibilidade de tresmalhar na descida e o horário global são os ingredientes a ter em conta.

Nada como um bom arroz de sarrabulho em Ponte de Lima, acompanhado com vinho verde para nivelar a tal da insulina...

4 comentários:

Anónimo disse...

Dois métodos de treino. O vosso foi físico, o meu foi psicológico. Treino intensivo em situação de conforto extremo, com o intuito de chegar ao ponto de provocar uma tal insanidade que me levasse a quer estar num cenário de desconforto. Desta vez não quis atingir o meu limite psicológico. Embora quando vi o Coelhitropo há noite não estive longe, desta vez tive sorte e confundi-o apenas com um coelhinho.

Uma boa história.
Obrigado pelo convite.
MC

Ps: mas o mais duro não foi nem a aproximação, nem a escalada, nem o regresso da parede para a Sra. da Peneda. Duro foi ter depois disto tudo, que jantar num restaurante sem poder encostar as costas.

sesa disse...

Ihh pois foi! afinal não jantamos em Ponte de Lima como de costume, mas num restaurante muito fixe:
"Saber ao Borralho", no Soajo.

Comemos muito bem, num espaço espectacular, só para nós, com lareira e tudo.

Dez estrelas.

Acho que os carrachos corrosivos fazem falhas na memória.

Abraço

Ps. Obrigado pela companhia. Porque o mais importante são as pessoas.

teixas disse...

traidores !

taia disse...

Ohhh Joni, contigo iremos abrir uma via na Nédia à moda antiga.

À quem diga que esta não contou, levamos o MC, que assim não vale...

Beijos e abraço.
AB