Contar esta aventura será muito difícil, muitos momentos ficarão por contar, grandes risadas, verdadeiros momentos de medo e dúvida que se vive pendurados em cordinos da época da carqueija.
Sei de fonte segura que todos lá queremos voltar, eu voltei exactamente três anos depois de lá ter estado pela primeira vez.
A equipa foi de facto escolhida a dedo, todos tínhamos algo para dar, mais não fosse frouxidão e muito medo.
Antes de mais tenho de contar a bela viagem do norte para Portalegre onde chegamos pelas 5 da manha, de facto uma hora muito conveniente para quem iria sair às sete da manha para os Galayos. Aqui começam os contributos, o Zé atrasou-se porque não sabia chegar até à Teixinha e podemos colocar o sono em dia, há males que vêm por bem.
De manha carregamos o carro até não caber mais e siga que se faz tarde.
Na viagem fizeram-se projectos para todas as agulhas escaláveis nos Galayos, grandes projectos… mas todos sabíamos lá no fundo que a humildade nos Galayos é o melhor remédio. Carregados feitos xerpas seguimos rumo para cima, já sabíamos o que nos esperava, pelo menos três horitas de aproximação.
Montamos hotel num bivaque no sopé do Pequeno Galayo, fizemos um jantar que meteria inveja, vários queijos entre eles o queijo cabrales, enchidos, pão, vinho entre outras iguarias…”uma expedição tipo tuga, percebem porque passamos medo, deixamos um camalot no carro por cada iguaria destas que carregamos para cima ”.
Depois de tanto bebericar e comericar, aterramos nem uns anjinhos, posso dizer que foi o bivaque mais tranqui que fiz, nada de frio nada de barulho, e o céu…… Viam-se as agulhas recortadas a negro no céu azul estrelado, e o temibele TORREON precipitava-se sobre nós…uhhhhhhhhh
Durante o jantar tínhamos dividido as cordadas, Taia/Joni (cordada não faz nada) e Sérgio/Marco/Zé (cordada faz tudo). De manha lá seguimos a nossa sina, cordada frouxa para cima cordada forte para baixo.
Cordada Frouxa dia 6 de Outubro
Eu e o Joni não gostamos muito de grandes pressões, como já sofremos de medo antes de começar a escalar, temos a síndrome de ir várias vezes a casa de banho mal olhamos para a via, mas parece-me que na outra cordada o jovem vidente zéza também sofre do mesmo mal, mal põe um pé no mato logo tem que evacuar…
Tínhamos decidido fazer o Grande Galayo, e lá seguimos rumos ao sopé da via, mas nos Galayos não se deve subestimar as aproximações, quero dizer que escalei mais nas aproximações e nos destrepes que propriamente nas vias, passes duros e expostos, enfim sempre grande ambiente.
O Grande Galayo foi uma escalada tranquila boa para aquecer no ambiente Galayero, sem contar com o destrepe que é mais difícil e ainda com as cordas ao pescoço, se caís, abismoooooooooooo…..
Fazer o apenas o Grande Galayo no dia seria uma grande frouxidão, tínhamos visto no dia anterior que ainda podíamos fazer a agulha Paco Peres, era um género de bloco, diziam eles, e pensávamos nós…quando descíamos do Grande Galayo até vimos uma corrente ferrugenta no tope da Paco Peres, na altura pareceu-nos muito bem:
_Que nice até tem uma corrente…
A via estava cotada de grau baixo, era tudo de IV sup para baixo, vejam bem. O primeiro largo era IV acredito que sim se não tivesse uma aproximação como tem, ou seja um largo é logo sem corda se te foge o pé adeus dentinhos ai vais até à cascalheira, tum tum tum. O primeio largo só de piolet e crampons, "habia visgo" com fartura, ervas, televisores soltos, lesmas, enfim fauna e flora não faltava, deu para lubrificar os camalotes. O Segundo largo lá me mandei dizia que era fácil e era de facto um II grau (vou contar ao Joni a verdade, eu fiz as contas para que te calhasse os largos mais duros, sorry companheiro), xxi o terceiro largo era de levantar as mãos para o céu mas quando se chegasse ao patamar porque antes era de loucos, se aquilo é III grau??? Começa com uma fissura em V e bem regadinha, depois um esporão aéreo que se te largas… borras-te, desculpem a linguagem mas é verdade. E o rosseeee na corda, xiiii haviam de ver eu dizia puxa e o Joni dizia podes vir…fonix e ficávamos a noite toda ali, pois começamos a via já eram 4 da tarde, mas com algum esforço lá cheguei até ao pé do Joni e foi quando vi o derradeiro largo de III grau que tinha um tecto, lá foi o Joni de novo, e não é que o calhau que fazia o tecto abanava, bem foi passar de raspão e nem olhar para trás, nesta reunião podia ver o pessoal que já estava no refugio, e eu pensava quem se ri por último ri melhor.
Ainda no cume da Paco Peres, questionávamos mais uma vez onde andarão os passarinhos?? E não é que de repente ouvimos umas vozes abismadas, era a cordada II, que vinha da sua escalada, iam-se meter pelo abismo abaixo, lá lhe demos as indicações correctas para o canal de destrepe e encontramo-nos no sopé da Paco Peres. Bem foi o delírio, colinho e grandes aventuras para contar, os passarinhos tinham estado com uns dinossauros da escalada nos Galayos e tinham feito uma via duríssima, vinham amarelados.
Descemos e compramos umas cervejas e brindamos à amizade porque nada mais vale a pena no fim de um dia daqueles.
(Aqui entra o relato da subida à Punta Amezua, via Gerardo Rafa pela cordada que alucinou na reunião do medo e viu o Salvador Rivas)
Esta noite foi a desgraça total, ficamos até tarde a rir do medo que passamos.
No dia seguinte foi a desgraça não acordamos muito cedo o que pode ser decisivo no que diz respeito à quantidade de vias que conseguiremos fazer. Decidimos fazer novas cordadas, Taia/Marco e Sérgio/Zé/Joni. Nada de grave fomos fazer a Punta Maria Luísa pela via Rivas à Cunha.
O grau era puxado avisei de antemão o meu parceiro de cordada que não me via abrir nada naquela via. Haviam passos comprometidos, passos de decisão. No primeiro largo tínhamos logo que dar um salto, bem algo pouco comum, como uma verdadeira medrosa que sou não saltei com medo de me esfregar por ali abaixo, mas também não conto como me desenrasquei, quem viu, viu, quem não viu, sabe que meti um camalot e uma fita e que destrepei ate chegar até à parede do outro lado.
Este largo teria um canal de II grau, mas como estava muito sujo, tornou-se mais duro mas mais limpo, fez-se mas apertou-se.
No segundo largo era o passo de decisão, mas foi bastante fácil, era apenas complicações psicológicas. O terceiro largo era curto mas muito bom, escalada bonita. O quarto largo era aéreo, era “rastrero”. Depois da cambada toda no cume da Maria Luísa começou o desespero, aí o rapel, como saímos daqui…confesso eu desespero um pouco com os rapeis. Lá descemos depois de ouvir umas histórias sobre rupturas de equipamento, não é que no final a corda não vinha…
M…e…r…d…a… A corda ficou presa!!!!!!!!!!!!!!! Sim, o Marco teve que abrir um largo tipo à bravo em terreno um pouco decomposto, enquanto eu o Sérgio baixamos pelo destrepe mais manhoso de todos que chegou mesmo a ter umas partes em que ponderei que se tivesse um saco plástico fazia secu, mas à falta do saso tivemos mesmo de magnesiar e destrepar até com os dentes se não queríamos parar na cascalheira com os osso virados para trás. O Marco depois de conseguir soltar a corda (o motivo da mesma ter ficado presa foi a o roossse e o atrito nas dezenas de cordinos que estavam à volta do cume), encontraram a corrente prometida que estava lá encaixada entre calhaus. Encontramo-nos na cascalheira (canal de la apertura) que em tugules diz bem o que se tem que fazer que é apertar por lá baixo.
Bem depois de dias como estes ainda tivemos de bombar até ao carro, eu foi tipo auto-motivação teve que ser por etapas, quando estiver no caminho e deixar o canal já estou bem, quando cheguei, xiiii ainda é uma caminhada do caraças, mas quando chegar à fonte já estou melhor, o problema é que tem três fontes…
Abraço companheiros de cordada.
(estou a tratar as fotos, já ponho as fotos, lá para a tarde)
11 comentários:
Epá! Seus ensarilhas! Não me digam que rapelaram directamente dos cordinos da Maria luisa?! tinham de destrepar um pouco por trás da crista e iam dar ao ponto de rapel com argolas... Se bem q, até mesmo aí, há forte possibilidades de entalar as cordas... =(
... dessas argolas do rapel as cordas de 60 mal chegam ao canal... que raio, d quantos Km são as vossas para conseguirem chegar ao canal desde o cucuruto da Maria???
Como sempre... rock-tripa-reports xalentes.
Na escalada o que conta é o espirito... e vocês têm-no para dar e vender!
Muito bem!
Paulo Roxo
Pois, a nossas cordas tambem deram "quase"....até ao canal ,mas o quase que faltava destrepou-se...mas nem vale a pena descrever...
ganda taia companheira de cordada,nós é que somos os frouxos mas nós é que trouxemos os projectos todos cumpridos.
Claro que a cordada "mais olhos que barriga" está de parabens pêla dureza,mas trouxeram de lá muitos cabelinhos brancos .
Bámo lá mas é, a mais saidas destas.
O problema do rapel é que o pessoal tinha lido nas folhas mais actualizadas que existia um top com argolinhas, mas nos Galayos e no cume da Maria Luísa tu pensas xiii que piada de mau gosto, bem procuramos mas não demos com as ditas, bota para baixo nos cordinos, eu admito eu pressionei um pouco, eu quando se trata de rapel, quanto mais depressa passar melhor.
Mas valeu a pena da próxima não ensarilhamos tanto as cordas.lol
E concordo contigo Janeca, bamo-lá para a próxima.
Que ensarilhada!!! Mas fazem sempre parte destas aventuras, caso comtrario tampouco tinha tanta piada (agora a malta ri, mas na altura acredito que não fosse bem assim).
Parabens!!! Boa disposição, escalada e aventura...é tudo o que se quer!
Então e essas fotos?
Paulo Roxo
Queijos, enchidos, vinhos...não querem vir conosco um destes dias :)?
Sugestão: um fim-de-semana nas belas paredes da barragem de Stª Lúzia (acho que essas ainda não receberam as vossas mãos suadas...ou já).
Que tal?
Da próxima tb quero Galayar!!!!!
Boa onda!
Té breve
Daniela
Peço imensa desculpa por ainda não ter colocado as fotos, mas "eu prometo" que de hoje à noite não passa.
Daniela aceitamos o desafio, bora a para Sta Luzia mas olha que a gente vai engordurar as presas com as mão de comer enchidos.
E quanto aos Galayos já deviamos lá estar, é um local fantástico "para passar medo".
Abraços
ui santa luzia? acho que as vias ficam perto do carro.
Então desta vez podemos levar o presunto inteiro e um garrafão de 5 litros..
Epá, que se cumpra o que dizes! Prometes?
:)
Daniela
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